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sábado, 2 de janeiro de 2016

Encontro para o Cavaleiro Inexistente

Primeiramente, eu gostaria de dizer que o encontro para o livro Cavaleiro Inexistente foi fantástico! Amei nossos debates, e, para aqueles que infelizmente não puderam ir, quero destacar alguns temas e discussões aqui. 

Primeiro, comentamos o mais óbvio: o fato de Agilulfo Emo Bertrandino, o cavaleiro dos Guildiverni e dos Altri de Corbentraz e Sura, não existir – ser um ideal da cavalaria. Suas características peculiares, como a de sempre se lembrar de todos fatos, datas e detalhes ocorridos em batalhas (o que muito irritava os companheiros paladinos); depois a declarada repulsa dele em relação ao que era humano, no plano físico, como dormir com os dedões apontando para o céu, a própria função de dormir a ele era desconhecida e impossível; sua impecável conduta, propósito e zelo em servir seu rei e seu propósito; além, é claro, do estado permanente, infinitamente imaculado e reluzente, de sua armadura. 
Não pudemos deixar de notar, no próprio texto, certa troça quanto ao ideal virtuoso, a infalível honra e o extremo marco presente nos contos de cavalaria. Como 'ser um cavaleiro' era a única razão para Agilulfo existir, seu desaparecimento foi determinado ao final do livro quando seu feito de bravura, o de defender a virgindade da donzela Sofrônia, foi revelado nulo. 
Também comentamos sobre Agilulfo ser o único desejo de Bradamante, a destemida guerreira, justamente por ser o objeto ideal. Cansada de todos outros, homens de carne e osso, ela ansiava pelo modelo fantástico, nenhum outro. Na conclusão do livro, o leitor descobre que Bradamante é, na verdade, a narradora confinada no convento, e nesse momento ela percebe-se finalmente pronta para aceitar um homem comum, um homem de carne e osso: Rambaldo de Rossiglione. Assim, Bradamante desiste do cavaleiro ideal e alegremente entrega seu amor ao cavaleiro que a amava e procurava por ela. Inclusive, de alguma forma, ela mesma aguardava-o ansiosamente.
Outro ponto muito interessante foi aquele que Alessandra compartilhou: um ponto de intertextualidade entre o Cavaleiro Inexistente e Razão e Sensibilidade, de Jane Austen. Na ligação entre dois personagens e sua mútua complementação (quase uma simbiose). A maneira como os personagens se completam, em Razão e Sensibilidade - uma irmã totalmente razãoenquanto a outra emoção – e em Cavaleiro Inexistente um cavaleiro que não existe mas que é consciente de seu papel e vida, ao lado de Gurdulu que existe (fisicamente), mas não possui consciência de sua existência e papel. ADOREI!
O grupo também riu muito – até sentir calor em excesso e recorrer aos abanadores -  nos comentários sobre as cenas de Gurdulu e as damas da Lady Priscila; da impressionante cena noturna da própria Lady com o cavaleiro inexistente. Apesar de não realizarem fisicamente um ato sexual, o cavaleiro em sua honrada conduta enche-a de carinhos, cortejos, atenção e mimos, ao que ela responde com extremo regalo. Todos os outros cavaleiros que Lady Priscila havia atraído para seu castelo – e que depois tornaram-se eremitas – tiveram noites em toques e atos sexuais com ela, já o cavaleiro inexistente, diferente e incapaz disso, passa a noite inteira em expressões, palavras de carinho e serviços que não se consumam no ato sexual, porém na elevação da alma feminina. Com isso, ele se torna inesquecível, profundo e diferente de todos os outros.
Agora, sobre os intérpretes: aqueles que não podiam ser mortos nas guerras, pois senão como poderiam os soldados xingar-se, ofender-se e lançar juras de vingança e ódio eterno? Como poderiam as mortes por confusão e má interpretação existir? 
Outra detalhe muito engraçado veio das frases da – até então – irmã Teodora, narradoras nas páginas onde ela tenta descrever um pouco do conhecimento das suas companheiras em relação ao amor. Como ficaria insuficiente minha explicação humorística nesse caso, prefiro a transcrição da obra para finalizar meus comentários sobre esse maravilhoso encontro.

“Escrevo no convento, deduzindo coisas de velhos documentos, de conversas ouvidas no parlatório e de alguns raros testemunhos de gente que por lá andou. Nós, freiras, temos poucas ocasiões de conversar com soldados: e, assim, o que não sei, trato de imaginar; caso contrário, como faria? E nem tudo da história está claro para mim. Vocês vão me desculpar: somos moças do interior, ainda que nobres, tendo vivido sempre em retiro, em castelos perdidos e depois em conventos; [...]

[...] Não digo que não tenha ouvido falar disso: pelo contrário, no mosteiro, para manter-nos afastadas das tentações, às vezes se discute a questão, da maneira que podemos fazê-lo com a vaga ideia que temos sobre ela, e isso ocorre, sobretudo, cada vez que uma de nós, coitadinha, por inexperiência, fica grávida ou então, raptada por algum poderoso não temente a Deus, volta e nos conta tudo o que lhe fizeram.


 Lindas e super animadas!


















Momentos fantásticos ao lado de pessoas maravilhosas

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